A doula é uma profissional que acompanha e apoia a futura mãe antes, durante e depois do parto, oferecendo suporte contínuo e estabelecendo uma relação de confiança, cumplicidade e intimidade de mulher para mulher.
A palavra doula tem origem grega e se traduz por “mulher que serve”, o que explica a função de ajudar grávidas na gestação, no parto e também após o nascimento do bebê.
A atuação da doula durante o parto é reconhecida e estimulada pelo Ministério da Saúde e pela Organização Mundial da Saúde (OMS), mas somente em 2013 o Ministério do Trabalho incluiu a categoria “Doula” na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), tendo seu trabalho reconhecido pelo governo.
A Unicef (2017), em seu guia sobre a importância do trabalho de parto espontâneo e humanizado, recomenda que seja permitido que toda mulher seja acompanhada por uma doula visto que sua presença só gera benefícios para a parturiente e o trabalho de parto.
O trabalho da doula pode começar bem antes do parto, orientando a gestante sobre todo o processo da gravidez até o nascimento do bebê.
Durante a gestação, a doula acompanha, informa e esclarece dúvidas a respeito do momento do parto, com informações baseadas em evidências científicas, buscando caminhos para que a gestante se sinta segura para passar pelo momento do parto confiante em si, na sua força e no seu corpo.
A doula auxilia a gestante na criação do plano de parto (que é uma carta de intenções, na qual a gestante declara qual é o atendimento que espera para si e para o seu bebê, feito em conjunto com a mulher e comunicado a seu companheiro e, se aplicável, a sua família).
Recomendado pela OMS (1995), planeja com antecedência a organização do momento do parto e protocolos na maternidade, buscando esclarecer todas as dúvidas para o grande momento, aumentando a segurança da mulher e sua família com o parto. A doula tem o papel de oferecer conforto, encorajamento, suporte emocional e físico durante toda a gestação até o momento do parto.
Durante o trabalho de parto
A doula é a primeira pessoa a chegar a casa da mulher, tendo o papel de apoiar e tranquilizar a gestante nessa etapa, oferecendo-lhe carinho, massagens, palavras de apoio e encorajamento, trazendo informações sobre cada fase, propondo exercícios para facilitar os desconfortos com as contrações, além de ensinar técnicas não farmacológicas para alívio da dor, técnicas de respiração, banhos e sugestões de posições que aliviam o desconforto e auxiliam no progresso do trabalho de parto.
Também oferece suporte explicando os termos médicos e os procedimentos hospitalares durante o trabalho de parto sendo, muitas vezes, uma ponte entre a gestante e a equipe médica durante esse momento, traduzindo com linguagem mais simples o que está acontecendo durante o TP (trabalho de parto) e parto, além de também ajudar o pai dentro desse processo.
No pós-parto
No pós-parto, em atendimento domiciliar, a doula pode atuar de diversas maneiras, auxiliando na amamentação e nos primeiros cuidados com o recém-nascido, informando a essa gestante sobre todas as grandes transformações que a maternidade pode trazer, tirando as dúvidas sobre o puerpério ou dando suporte a nova mamãe, ouvindo-a e apoiando-a, ou seja, sendo um suporte para a mulher. Escuta ativa
Para além dos estudos e técnicas para acompanhar a gestante em sua jornada, a doula desenvolve poder da escuta ativa, empoderando a mulher sobre sua gestação e seu parto, permitindo que esta tenha voz.
A Doula estimula a confiança da mulher, fazendo-a acreditar na sua capacidade de parir, estimulando sua força no processo e a colocando como a protagonista do seu parto.
O apoio durante o trabalho de parto pode ajudar em vários aspectos
- Experiência de parto mais positiva e satisfatória, quando a mulher se sente segura o parto pode fluir bem melhor;
- Menos cesáreas desnecessárias; uma gestante bem informada corre menos riscos de violência obstétrica também;
- Menos risco de depressão pós-parto, com apoio emocional e informação a mulher se sente mais acolhida;
- Início imediato da amamentação; orientação fundamental para os primeiros minutos de vida do bebê;
- Disponibilizar informações, dando instruções e conselhos;
- Estabelecimento de um vínculo entre a equipe de saúde e a mulher, explicando-lhe o que vai acontecendo e manifestando as necessidades e os desejos da mulher para a equipe de saúde;
- Auxilia na elaboração do plano de parto.
O que a doula não faz:
- Substituir os profissionais envolvidos no parto;
- Cuidar da saúde do recém-nascido;
- Qualquer tipo de procedimento médico, administração de medicamentos etc;
- Discutir os procedimentos com a equipe, o que a doula faz é dar apoio à mãe;
- Substituir os profissionais da equipe de assistência ao parto; a doula não é profissional de saúde, apesar de seu apoio ser fundamental para a saúde da mulher;
- Substituir o acompanhante garantido por lei, a não ser que seja escolha da mãe.
Estudos de Marshall Klaus e John Kennel (universidade de Stanford,1993), mostram que a presença contínua de uma doula reduz o número de intervenções médicas e, portanto, melhora o bem-estar da mãe e do bebê. Essa redução é de:
⇨ 50% as taxas de cesárea; ⇨ 40% outros medicamentos para dor;
⇨ 40% parto utilizando fórceps; ⇨ 60% os pedidos de anestesia peridural;
⇨ 25% a duração do trabalho de parto; ⇨ 50% a necessidade de ocitocina.
No Brasil, o aumento da procura por doulas se deu a partir dos anos 2000 com os debates acerca da humanização do parto.
Vários estudos reconhecem e incentivam a presença da doula para a mulher e para o desenvolvimento do trabalho de parto.
A doula deve exercer sua função sempre baseada em evidências científicas, levando informação, segurança e apoio através do preparo emocional para que as mulheres tenham uma experiência humanizada, feliz e respeitosa durante o processo da gestação, parto e pós-parto.
FONTES BIBLIOGRÁFICAS
Brasil. Lei n° 11.108, de 7 de abril de 2005. Garante às parturientes o direito à presença de acompanhante durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato, no âmbito do Sistema Único de Saúde(SUS). Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11108.htm. BRASIL. PROJETO DE LEI N.º 8.363, DE 2017. Dispõe sobre o exercício profissional da atividade de Doula e dá outras providências. Câmara dos deputados. 2017. Dispon[ivel em: https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid=562202286AF6DA2C3D4D20412CC58868.proposicoesWebExterno1?codteor=1596702&filename=Avulso+-PL+8363/2017. UNICEF- Fundo das Nações Unidas para a infância. Quem espera espera: pelo direito de nascer, 2017. Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/media/3751/file/Quem_espera_espera.pdf. OMS. Organização Mundial da Saúde. Saúde Materna e Neonatal. Assistência ao parto normal: um guia prático. Genebra: Ministério da Saúde do Brasil, 1996. Disponível em: https://pesquisa.bvsalud.org/bvsms/resource/pt/mis-9570. Klaus M, Kennel J. “Mothering the mother: How a doula can help you to have a shorter, easier and healthier birth.” Hardcover. 1993.