Como identificar e tratar uma depressão pós-parto

depressão pós-parto

Imagine uma mãe que acaba de dar à luz e está tentando lidar com a avalanche de tarefas e emoções do puerpério. Seu coração, que antes era preenchido por uma expectativa radiante, agora oscila entre momentos de euforia e outros de desconcertante tristeza. 

A chegada do bebê deveria ser uma fonte inesgotável de felicidade, mas algo parece não se encaixar. Ela começa a sentir-se culpada por não estar feliz e tenta ocultar seu estado emocional. 

Esse isolamento pode estar agravando um quadro de depressão pós-parto, mas ela não percebe a gravidade da situação e a culpa se intensifica ainda mais.

Infelizmente, esse tipo de experiência é vivenciado por uma grande quantidade de mães após a chegada de seus bebês.

Em meio às alegrias e expectativas que cercam a chegada de um bebê, há um espectro de emoções complexas e desafiadoras, que podem revelar-se sintomas de uma depressão pós-parto.

Nosso propósito neste artigo é desenvolver um diálogo franco e acolhedor sobre esse tema, que precisa ser discutido abertamente para desconstruir a ideia de que a depressão pós-parto é um fardo carregado por escolha própria.

Sendo assim, precisamos começar destacando dois pontos: primeiramente, a depressão pós-parto é coisa séria e, diante dos seus sintomas, é preciso procurar ajuda. Então, não tente minimizar o impacto de tudo o que você está sentindo. 

Em segundo lugar, ao detectar a possibilidade de estar passando por uma depressão pós-parto, não se culpe. Ninguém tem culpa de ficar doente. Essa situação tem tratamento e pode ser resolvida.

Dito isto, ao longo dos próximos tópicos você vai entender melhor o que é depressão pós-parto, quais são os sintomas mais comuns e quais caminhos podem ser seguidos para tratar o problema. 

Depressão pós-parto: o que é?

Num mundo onde as narrativas sobre a maternidade quase sempre se concentram na alegria e na celebração, as mães que se deparam com a depressão pós-parto com frequência acabam se silenciando em virtude da sensação de não estar cumprindo uma suposta obrigação de manter-se felizes e inabaláveis. 

Mas como ocorre com qualquer doença, entender essa condição é o primeiro passo para a jornada de cura

A depressão pós-parto é uma condição de saúde mental que pode afetar mães após o nascimento de seus filhos. 

Contrariamente ao mito de que é simplesmente uma “tristeza materna”, essa forma de depressão é um distúrbio de saúde real, muitas vezes relacionado a alterações hormonais e, principalmente, a fatores ambientais.

É vital desassociar a depressão pós-parto da ideia prejudicial de que a mãe que a vivencia está falhando em seu compromisso materno ou não ama seu filho. 

Esse estigma infelizmente persiste, impedindo algumas mães de compartilhar suas lutas e procurar ajuda. E é claro que com o tempo a situação só piora. 

É importante colocar em pauta o estado emocional das mães após o nascimento de seus bebês, pois só assim condições como a depressão pós-parto serão encaradas da forma correta, como qualquer outra doença que requer tratamento imediato. 

A sociedade muitas vezes julga a vulnerabilidade emocional como fraqueza, as mães podem se sentir encurraladas entre a pressão de corresponder a ideais inatingíveis de maternidade e o medo de serem rotuladas.

Ter depressão pós-parto não é uma escolha e isso precisa ser repetido até que todas as mães sintam-se à vontade para falar sobre suas experiências sem receio de julgamento.

Ao compreendermos que a depressão pós-parto não é uma falha pessoal, mas sim uma condição tratável, abrimos as portas para um diálogo mais aberto e solidário

Como diferenciar a depressão pós-parto do baby blues e dos sintomas normais do puerpério?

A transição para a maternidade é uma montanha-russa emocional, e é comum as mães enfrentarem uma gama de sentimentos durante os primeiros dias após o parto. 

No entanto, é importante fazer uma distinção clara entre os sintomas normais do puerpério, o baby blues e a depressão pós-parto.

O baby blues é um fenômeno comum após o parto e afeta entre 50% e 70% das mães, podendo ser descrito como um estado depressivo mais brando, se comparado à depressão pós-parto. 

As mães costumam se deparar com o baby blues a partir do terceiro dia após o nascimento do bebê com o surgimento de sintomas como flutuações emocionais, irritabilidade, ansiedade, choro frequente e falta de autoconfiança.

A princípio essa caracterização pode parecer muito similar à de uma depressão pós-parto, mas os sintomas são mais leves

Além disso, a principal diferença entre as duas condições é que o baby blues é uma situação transitória, que dura aproximadamente duas semanas.

A depressão pós-parto é mais duradoura e não se resolve por conta própria. Daí a importância de identificá-la e procurar ajuda. 

Mesmo quando não falamos especificamente do baby blues, o puerpério envolve uma série de mudanças físicas e emocionais que são absolutamente normais. 

A adaptação às novas demandas do bebê, as alterações hormonais e as noites sem dormir podem contribuir para variações de humor e cansaço. Contudo, esses sintomas não costumam ser tão intensos e persistentes quanto os de uma depressão pós-parto. 

Portanto, se uma mãe experimenta uma tristeza profunda, falta de interesse ou prazer, alterações significativas no apetite ou sono, sentimentos de culpa excessiva, falta de energia e dificuldade de se conectar emocionalmente com o bebê por mais de duas semanas, é importante buscar ajuda profissional.

O baby blues e os sintomas normais do puerpério geralmente não requerem intervenção clínica, mas no caso da depressão pós-parto essa ajuda é inegociável. 

O diagnóstico preciso é o primeiro passo para que as mães recebam o tratamento adequado e possam embarcar na jornada da maternidade com a saúde mental em dia.

Depressão pós-parto: sintomas

Agora que você entende melhor o que é depressão pós-parto e sabe a gravidade dessa condição, vamos falar sobre os sintomas para que você consiga identificá-los e buscar ajuda assim que os primeiros sinais surgirem, caso você venha a passar por esse problema. 

Os sintomas sobre os quais comentaremos em seguida fazem parte de uma lista publicada pelo Ministério da Saúde em sua página sobre a depressão pós-parto. Confira:

  • Melancolia intensa: é a sensação de ter um peso invisível sobre seus ombros, mesmo quando tudo parece estar bem ao seu redor. Uma tristeza profunda se abate sobre você, tornando difícil encontrar alegria nas pequenas coisas que costumavam te fazer sorrir;
  • Desmotivação profunda diante da vida: as atividades que costumavam trazer satisfação agora parecem árduas e sem nenhum significado. Você se sente incapaz de encontrar propósito em suas ações diárias;
  • Ausência de forças para lidar com a rotina: além da exaustão inerente à maternidade, você enfrenta uma fadiga constante. A simples ideia de enfrentar as demandas diárias parece esmagadora, e você precisa lutar muito para reunir as forças necessárias para lidar com a rotina;
  • Desespero constante: você se vê envolvida por um vórtice de emoções negativas. Uma tristeza profunda permeia seus dias, independentemente das circunstâncias externas e você se sente perdida em um mar de emoções avassaladoras;
  • Perda de interesse em atividades diárias: você se sente como se houvesse uma sombra que obscurece as pequenas alegrias da vida. As atividades cotidianas que antes traziam satisfação agora não fazem mais sentido; 
  • Perda de Interesse em atividades e pessoas que antes você gostava: você experimenta uma desconexão emocional profunda, perdendo o interesse em pessoas, hobbies e experiências que antes lhe traziam alegria. Essa perda de conexão afetiva é um sintoma marcante da depressão pós-parto;
  • Pensamentos sobre morte ou suicídio: você se vê aterrorizada por pensamentos sombrios sobre a morte e, se a situação for mais grave, sobre o suicídio. No entanto, não se sente à vontade para falar sobre o assunto com ninguém e se culpa por esses pensamentos, que são sinais alarmantes e requerem atenção imediata e suporte profissional. Se isso acontecer com você, não deixe de procurar ajuda;
  • Vontade súbita de prejudicar o bebê: o conflito interno é assustador e você experimenta impulsos inesperados de prejudicar ou fazer mal ao seu bebê. Essa luta interior é um aspecto sério e delicado da depressão pós-parto e para se livrar desses pensamentos, você precisa buscar ajuda imediatamente;
  • Perda ou ganho de peso: é natural que após o parto você esteja acima do peso e demore um tempo para retornar ao seu peso ideal. Mas para além disso, a depressão pós-parto pode influenciar a sua relação com a alimentação, levando à perda ou ganho de peso de maneira significativa. Essas mudanças físicas refletem o impacto emocional dessa condição; 
  • Dormir muito ou não dormir o suficiente: praticamente toda mãe fica um tempo sem conseguir dormir suficientemente após o parto, mas no caso da depressão pós-parto o problema vai além do período de adaptação à rotina com o bebê. Alternando entre dormir excessivamente e sofrer de insônia, você pode experimentar desafios adicionais àqueles mais comuns durante o puerpério. Se você não consegue descansar mesmo quando o seu bebê está dormindo ou tem alguém da família cuidando dele, é melhor ficar atenta. O mesmo acontece quando mesmo diante das necessidades do seu bebê ou do choro dele você não consegue acordar;
  • Inquietação e indisposição constantes: a depressão pós-parto pode acarretar numa indisposição que transcende o físico e se reflete numa inquietação emocional interior. Essa agitação torna ainda mais desafiadoras as demandas diárias com o bebê; 
  • Cansaço extremo: mesmo após uma noite de sono, você sente um cansaço avassalador. Essa fadiga constante, que vai além do desgaste comum da maternidade, pode indicar um componente mais profundo associado à depressão pós-parto;
  • Sentimento de indignação ou culpa: a maternidade passa a estar envolta em um manto de indignação e culpa constantes. Esse peso emocional, muitas vezes irracional, afeta a autoestima e contribui para o ciclo da depressão pós-parto;
  • Dificuldade de concentração e tomada de decisões: a sua capacidade de se concentrar e tomar decisões, que antes era afiada, agora está obscurecida por uma névoa mental persistente. Essa dificuldade cognitiva é um aspecto comum da depressão pós-parto;
  • Ansiedade e excesso de preocupação: é comum que depois de tornar-se mãe, você adote um comportamento mais cauteloso em suas ações sempre visando ao bem-estar do seu bebê. Mas, em meio às demandas da maternidade, você pode acabar vivendo um ciclo constante de ansiedade e preocupação excessiva. Esses padrões de pensamento intrusivos podem te levar a acreditar em ameaças inexistentes.

Alguns dos sintomas apontados acima são realmente assustadores e podem ser percebidos até mesmo impronunciáveis, mas é importante lembrar que a depressão pós-parto, mesmo quando manifestada por meio dos sintomas mais intensos, é uma condição tratável

Então o primeiro passo para se livrar dessa situação e viver a maternidade de forma plena e feliz é buscar ajuda, com o apoio emocional e o tratamento adequado.

No próximo tópico, vamos falar sobre os tratamentos e caminhos que você pode seguir para se livrar da depressão pós-parto.

Depressão pós-parto: tratamento

A depressão pós-parto com frequência é um desafio silencioso. Por isso, compreender a importância de procurar ajuda é crucial para obter o diagnóstico correto e, consequentemente, colocar em prática um tratamento adequado e personalizado. 

A sua jornada de reconquista do bem-estar emocional começa quando você identifica os sintomas e se recusa a conviver com eles, buscando a ajuda necessária para eliminá-los da sua rotina.

Ao contrário de diagnósticos laboratoriais, a depressão pós-parto é eminentemente clínica, demandando uma análise atenta dos sintomas e da sua história individual. 

Enquanto alguns exames sanguíneos podem ser requisitados para descartar disfunções hormonais associadas à gravidez e ao pós-parto, o diálogo aberto com o profissional de saúde torna-se a bússola essencial. 

Falar sobre seus sentimentos, sua disposição e seus pensamentos é um passo corajoso e indispensável para traçar o diagnóstico preciso.

Alguns profissionais afirmam que, para que a situação vivenciada pela mãe seja considerada depressão pós-parto, os sintomas devem surgir em até quatro semanas após o nascimento do bebê, persistindo por mais de duas semanas. 

Porém, informações mais atualizadas nos mostram que a depressão pós-parto pode aparecer até o primeiro ano de vida do bebê. Além disso, a Associação Americana de Pediatria orienta que as mães sejam avaliadas até o 3º ano de vida do bebê, pois estão sob maior risco para essa condição.

Feito o diagnóstico, o tratamento da depressão pós-parto deve ser uma jornada individualizada, focada na singularidade de cada mulher. Comumente, duas vertentes principais ganham destaque: o uso de antidepressivos e a psicoterapia.

Algumas mães se deparam com os sintomas da depressão pós-parto, mas não buscam o tratamento justamente por medo de terem que tomar medicamentos fortes e serem obrigadas a promover o desmame precoce de seus bebês.

Essa resistência associada ao uso de medicamentos é compreensível. Contudo, precisamos lembrar que existem opções de medicamentos seguros e compatíveis com a amamentação. A consulta com um profissional de saúde capacitado é o pilar para a escolha adequada e segura do seu tratamento.

Na esfera da psicoterapia, o diálogo franco e aberto estabelece a base para o sucesso do tratamento. 

O acompanhamento com o psicólogo permite a exploração profunda dos seus sentimentos e a construção de uma estratégia para enfrentar os desafios emocionais.

Mas além do suporte profissional, que é indispensável, a rede de apoio pessoal desempenha um papel fundamental

O envolvimento da família e do parceiro, juntamente com o diálogo sobre a condição, cria uma atmosfera de compreensão e colaboração

Abrir-se sobre pensamentos angustiantes, sobretudo os mais intensos, como os relacionados à culpa ou ao desprezo pelo bebê, é um passo crucial no processo de recuperação.

Além disso, participar de um grupo de apoio, onde mães compartilham experiências e estratégias também é uma fonte valiosa de suporte emocional.

A Matera é a maior e mais completa comunidade para mães do Brasil. Focada no apoio mútuo e na troca de experiências, ela conta também com aulas semanais, manuais e cursos completos que vão te ajudar a se sentir mais autoconfiante nessa importante missão que é a maternidade.

Ao integrar a comunidade, você nunca mais vai se sentir sozinha com o turbilhão emocional que chega junto com o seu bebê.

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